Mulheres e boas decisões: como administrar as emoções ao tomar uma decisão?

As decisões, sejam elas familiares, profissionais ou financeiras, são frequentemente influenciadas por emoções. E o autoconhecimento é apenas o começo deste “novelo”.

Uma boa decisão sempre é fundamentada no conhecimento, especialmente no autoconhecimento. O processo decisório no cérebro é uma interação complexa entre várias regiões e sistemas neurais, alimentados principalmente pela memória. O cérebro avalia diferentes opções e seus possíveis resultados, buscando selecionar a melhor alternativa com base em informações disponíveis e objetivos pessoais.

Essa avaliação envolve uma combinação de fatores cognitivos, emocionais e sociais, levando em consideração experiências passadas, memórias e padrões aprendidos ao longo do tempo. Essa capacidade de aprendizado e adaptação permite que as decisões sejam modificadas, incorporando novos conhecimentos e ajustando estratégias com base em resultados anteriores.

As emoções não podem ser separadas ou dissociadas da racionalidade das decisões. Perceber suas emoções, identificá-las e utilizá-las para o seu benefício, da sua família ou do seu dinheiro, é um processo contínuo de aprendizado.

Confiança e medo podem ser aproveitados de maneiras positivas ou negativas. Mas, vamos a algumas reflexões: 

  • Seu medo te protege ou imobiliza?
  • Sua confiança tem trazido bons resultados?
  • A facilidade ou dificuldade em dizer “não” afetam a forma como você lida com o dinheiro?
  • Sua criança interior, o ego ou a impulsividade ainda causam problemas?

E do ponto de vista de gênero, as decisões diferem entre homens e mulheres? As emoções e experiências são distintas. Bem, arrisco dizer que seria quase um milagre Darwiniano se homens e mulheres tivessem desenvolvido soluções emocionais idênticas.

É importante reconhecer que as experiências emocionais podem variar de pessoa para pessoa, independentemente do gênero, influenciadas por uma interação complexa entre fatores biológicos, sociais e culturais. No entanto, é um fato científico que questões como TPM, menopausa, gravidez ou maternidade podem afetar as decisões femininas. Apesar de ser um assunto polêmico nos dias atuais, com tantas discussões sobre gênero.

Mas só estou dizendo que aquele pote de sorvete que comi durante a TPM talvez tenha sido um “pequeno exagero” e me deixou com culpa. Ou que já considerei “enforcar meu marido” durante a menopausa, ou ainda que não consegui sair da cama devido à falta de energia. Esses são fatos reais que certamente influenciam a nossa visão, compreensão e tomada de decisão. No entanto, isso não significa necessariamente que tomaremos decisões ruins por causa dessas “sutilezas”, como veremos a seguir.

Social e culturalmente, as decisões também possuem um peso emocional diferente para as mulheres. Na minha família, por exemplo, sempre foi o homem quem cuidava do dinheiro, resultando em pouca ou nenhuma autonomia para as mulheres. Vai dizer que isso não afetou a autoestima das mulheres da família Fóz? E as consequências práticas? Eu desejava me libertar e acabei me casando aos vinte e poucos anos.

Essas situações são apenas alguns exemplos de como as emoções podem influenciar nossas decisões cotidianas. Muitas vezes, nossas emoções assumem o controle, levando-nos a fazer escolhas que podem não ser as mais “racionais” ou benéficas a longo prazo.

Para lidar com essas influências emocionais, é essencial desenvolver habilidades de autoconsciência emocional. Isso implica reconhecer e compreender nossas emoções no momento da tomada de decisão, para que possamos avaliar as informações disponíveis de maneira mais objetiva.

AUTOCONHECIMENTO

Às vezes essa palavra me parece clichê e até “conversa para boi dormir”. No entanto, a correria do dia a dia faz com que nossas decisões (milhares por dia) sejam automáticas e desatentas. E quando percebemos, nos desrespeitamos, nos machucamos. Ou machucamos os outros.

Autoconhecimento é a consciência profunda e objetiva de si mesmo, incluindo a compreensão de como afeto o outro, além de compreender suas próprias características, sentimentos, pensamentos, motivações, valores e crenças. O autoconhecimento envolve explorar e entender tanto os aspectos positivos quanto os desafios pessoais, reconhecendo seus pontos fortes, fraquezas e áreas para crescimento.

É um processo contínuo de reflexão interna e exploração, que permite uma compreensão mais clara de quem você é como indivíduo, suas preferências, padrões de comportamento, talentos e limitações. E está relacionado à consciência emocional, o que envolve reconhecer e compreender suas próprias emoções, bem como suas causas e efeitos.

Além disso, o autoconhecimento está ligado à autenticidade e à capacidade de viver de acordo com seus valores e objetivos pessoais. Permite tomar decisões mais conscientes e alinhar suas ações com sua verdadeira identidade.

Gosto muito de uma técnica chamada de Journaling, ou escrita reflexiva. É uma prática em que você registra seus pensamentos, sentimentos e experiências por meio da escrita. É uma forma de expressão pessoal que permite explorar e processar suas emoções, pensamentos e eventos de uma maneira mais profunda, e pode ser extremamente benéfico para o autoconhecimento emocional.

No meu consultório chamo de “técnica biográfica”, pois este inclui, após a escrita espontânea, a reflexão e busca de um sentido amplo, de uma “coluna dorsal” de sua história em dado momento da vida.

Para começar a praticar o journaling, reserve um tempo regularmente para isso, onde você vai registrar seus pensamentos (caderno ou digital), sem restrições ou julgamentos, tentando identificar padrões. Proponho uma reflexão sobre os seguintes pontos: 

  • Escolha o assunto sobre qual decisão precisa ser tomada.
  • Sua história e experiências passadas trazem um complexo “caldo emocional” para o momento de decisão, mudando prioridades e expectativas, trazendo inclusive “traumas”, menos valia ou entendimentos enviesados. Quais foram essas experiências e quais emoções positivas e negativas trazem? Em outras situações elas refletiram em algum padrão de comportamento? Na decisão a ser tomada, como essas emoções impactam? Me sinto equilibrada emocionalmente para decidir?
  • Momento e expectativas: Antes de qualquer viagem filosófica ou neurocientífica, te digo que é normal sentir emoções diferentes em diferentes fases da sua vida –   faculdade, baladas, viagens, paixões, casamento, filhos, divórcio, mudanças profissionais ou doenças mudam as nossas prioridades. Emoções “positivas” também podem influenciar nossas decisões. As paixões estão aí para provar isso. Qual seu momento de vida e quais suas expectativas? 
  • Conhecimento: Conhecimento pode ser adquirido em maior ou menor escala em qualquer momento da vida, aliado ao conhecimento “emprestado” de profissionais podem contribuir para decisões mais adequadas à você, reduzindo frustrações e otimizando seus resultados. Sobre o assunto a ser decidido, você tem ou sabe onde buscar o conhecimento necessário para tomar uma decisão “saudável”? Você saberia dizer que tipo de profissional ou estratégias eficazes podem ajudá-la?
  • Propósito e valores: O propósito refere-se àquilo que dá sentido à vida e ao que alguém busca alcançar ou contribuir de maneira significativa. Ter um propósito pessoal envolve identificar os objetivos e valores mais importantes para si mesmo, bem como o impacto que se deseja ter no mundo. Os valores são princípios, crenças e qualidades que são considerados fundamentais e essenciais para uma pessoa. Consegue definí-los?
  • Autoestima e autonomia: Sou livre para fazer minhas escolhas? Me parece claro que o controle sobre a própria vida, com independência e confiança, contribui positivamente para a autoestima e qualidade de vida. Caso a resposta para a pergunta seja NÃO, como faço para obter tal autonomia ou a quem posso recorrer? 
  • Riscos e benefícios: Considere os impactos a curto e longo prazo, bem como as possíveis consequências positivas e negativas de suas escolhas. E não se esqueça dos riscos emocionais. Acredite, eles são os mais difíceis de superar.
  • Saúde integral e autocuidado: Da mesma forma que falamos da impossibilidade de separarmos razão e emoção, também é evidente a relação entre corpo e mente. Decisões assertivas e equilibradas nos âmbitos emocional e cognitivo necessitam de um corpo saudável. Certifique-se de estar descansado, nutrido e emocionalmente equilibrado ao tomar decisões importantes.

Ao nos conhecermos profundamente, podemos tomar decisões mais assertivas, confiantes e alinhadas com nosso bem-estar e sucesso a longo prazo. Portanto, investir no desenvolvimento do autoconhecimento é essencial para uma tomada de decisão consciente e satisfatória em todas as áreas da vida.

Não existe padrão ou fórmula mágica. Cada mulher é única, com sua história de vida, momento emocional, conhecimentos, relações, saldo em conta corrente e ambições. Entender isso, refletir, estabelecer suas próprias regras e objetivos, além de reconhecer onde precisa de ajuda são partes fundamentais do processo. E se está difícil de resolver sozinha, pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas sim de maturidade no entendimento das nossas limitações.

Digo que sempre temos o poder de escolha, mesmo quando tudo está difícil e parece não ter saída, temos pelo menos dois “caminhos”. Trabalhar a Plasticidade Emocional, que inclui o exercício do autoconhecimento e do autocuidado, são caminhos importantes para tomarmos decisões responsáveis e, mais que isso, aprender a lidar com as frustrações e a ansiedade diárias de forma construtiva. 

Em um próximo momento quero compartilhar com vocês como fazer escolhas saudáveis baseadas na intuição e na gestão das emoções. Até breve!

Adriana Fóz, neuropsicóloga, palestrante e especialista em educação emocional.

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