Adriana Fóz colaborou.
Océrebro é o nosso mais importante órgão do aprendizado e para a aprendizagem, não temos como negar.
Conhecer e entender o seu funcionamento é um caminho muito eficaz para promovermos a aprendizagem e já são muitas as pesquisas que comprovam, como nos trabalhos de David A. Sousa, um americano que há mais de 25 anos estuda a relação entre o cérebro e a aprendizagem na escola.
Nosso cérebro é plástico e sendo assim podemos estimular e desenvolver muitas habilidades e competências por meio da ciência dos chamados períodos sensíveis. Porém, existem algumas “regras cerebrais”, tais como janelas de aprendizado, plasticidade neuronal, vulnerabilidades aos transtornos, diversidade de competências, dentre outros, que não devem ser subestimadas.
A maturação, o desenvolvimento e os estímulos do ambiente são “tecidos” de modo bastante com plexo, e incrivelmente particulares na biografia cerebral de cada indivíduo.
Tais conhecimentos são de fundamental relevância para que o educador otimize seus recursos diante da nova geração de estímulos e demandas que se impõe na sociedade e, por consequência, no âmbito escolar.
A escola de hoje não é mais apenas um espaço de transmissão de informações e construção de conhecimentos acadêmicos. Vai muito além, pois à medida que a tecnologia, as informações e os limites físicos transcendem, ascende uma nova pedagogia. Esta que não se opõe nem subtrai, mas que soma e incorpora. O professor pode ser ainda mais respeitado e comprometido, uma vez que o espaço da relação ensino/aprendizagem contempla a construção do saber sob um entendimento cada vez mais amplo do aprendizado. Um espaço e tempo dialéticos, onde o próprio professor ensina e aprende, e mais, quando ele pode criar uma relação de confiança, de exemplo, e como modelo de aprendizado.
Tais conhecimentos são de fundamental relevância para que o educador otimize seus recursos diante da nova geração de estímulos e demandas que se impõe na sociedade e, por consequência, no âmbito escolar
Quando os atores educacionais aprendem mais sobre como o cérebro aprende, traz para o objeto e objetivo da escola um recurso valioso e efetivo. Aprender sobre funções executivas, ou seja, sobre as funções de algumas regiões cerebrais que são fundamentais para o desenvolvimento e comportamento, tais como controle de impulsos, atenção sustentada, memória de trabalho, flexibilidade, metacognição, por exemplo, é uma nova demanda para a eficácia educacional. Nova e ao mesmo tempo antiga, pois muito dos conceitos já eram incorporados à prática e conhecimento dos professores, uma vez que estamos falando de uma organização do conhecimento que hoje tem o respaldo de pesquisas científicas. Estas vêm facilitar, promover a compreensão e instrumentalização de uma prática mais efetiva e contextualizada.
Ter a informação, por exemplo, que as funções executivas, no que diz respeito ao controle de impulsos, é desenvolvida desde criança e que ao se estimular esta função não só fará com que o jovem aprenda melhor, mas seja menos agressivo, mais engajado e mais saudável, é muito útil. Podemos evidenciar a correlação entre o desenvolvimento do autocontrole com a aprendizagem e desenvolvimento infantojuvenil nas pesquisas da Terri Moffit e seus colaboradores (2001). Ela está confirmada para o Congresso Brain, Behavior and Emotions, deste ano. Tem trabalhos muito esclarecedores e robustos sobre a importância em se treinar tomadas de decisão, pensamento f lexível e memória operacional, recursos estes subentendidos nos processos de aquisição de conhecimento.
Sim, estamos na era do conhecimento, da velocidade digital, das relações líquidas, conteúdos voláteis. Adaptar-se a isto é mais trabalhoso, pelo menos para mim, que sou da geração X. Parece que a geração Y está a um alfabeto inteiro de distância…
Tenho viajado para palestrar sobre este tema em escolas particulares do Brasil todo e é notável perceber a diferença entre as escolas que buscam se conectar com os conhecimentos da neurociência educacional. Certo é que muita besteira e confusões são feitas na tradução dos conhecimentos a partir de pesquisas no que concerne ao funcionamento do cérebro para aprender.
Aprender sobre funções executivas, sobre as funções de algumas regiões cerebrais que são fundamentais para o desenvolvimento e comportamento, é uma nova demanda para a eficácia educacional
Tanto é que resolvi fazer uma pesquisa em nível nacional para verificar o que nós educadores sabemos e o que falta saber. A pesquisa está na plataforma Google e para participar e receber informações sobre tais conhecimentos, podem contatar a Neuroconecte (Facebook: neuroconecte; whatsapp: 11-97533.6629). Convidei para fazer parte dois profissionais e pesquisadores incríveis: a Prof. Drª Analia Arevalo (USP) e o Prof. Dr. João Sato (UFABC). Haja autocontrole para esperar pelos resultados!
A despeito das diferenças, sejam entre gerações, entre os conhecimentos na prática ou a importância dada a estes conteúdos, o relevante é aproveitar para aprender com e sobre o próprio cérebro, concorda? Aproveito para lhe convidar para conhecer o livro “As aventuras de Newneu”, onde Newton Neuron, o super neurônio que mora em Parietópolis, dentro da cachola de Albert Spertoviski. Lá, as sinapses são passes de bola e os neurônios são jogadores de futebol. A limbilândia e brocabocas fazem parte do campeonato onde todos ganham, quando jogam em conjunto, em parceria!
E voltando ao âmbito dos desafios do século XXI, o estudo sobre as Neurociências no concernente à práxis escolar continuará um tópico e poderá colaborar para uma educação mais singular, conectada, integral e saudável. •
PARA SABER MAIS:
- COSENZA, R; GUERRA ,L. Neurociência e Educação: Como o Cérebro Aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
- SOUSA, D. A. How the Brain Learns. Corwin Press Inc, 2006.
- FÓZ, A. As aventuras de Newneu-o superneurônio. São Paulo: Matrix, 2015.
www.neuroconecte.com
Publicado na Revista Escola Particular do SIEEESP, Ed.267, Jun/2020: https://www.sieeesp.org.br/